sábado, 13 de setembro de 2014

08 de Dezembro - Imaculada Conceição


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

08 de Dezembro - Imaculada Conceição


Imaculada Conceição de Maria


1) Oração

Ó Deus, que preparastes uma digna habitação para o vosso Filho
pela Imaculada Conceição da Virgem Maria,
preservando-a de todo pecado em previsão dos méritos de Cristo,
concedei-nos chegar até vós, purificados também de toda culpa.
por sua materna intercessão.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Lucas 1,26-38)
Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,27a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.28Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo.29Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação.30O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.31Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.32Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,33e o seu reino não terá fim.34Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem?35Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.36Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,37porque a Deus nenhuma coisa é impossível.38Então disse Maria: Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra. E o anjo afastou-se dela.

3) Reflexão
*  Hoje é a Solenidade da Imaculada Conceição. O texto que meditamos no evangelho descreve a visita do anjo a Maria (Lc 1,26-38). A Palavra de Deus chega a Maria não através de um texto bíblico, mas através de uma experiência profunda de Deus, manifestada na visita do anjo. No AT, muitas vezes, o Anjo de Deus é o próprio Deus. Foi graças à ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, que Maria foi capaz de perceber a Palavra viva de Deus na visita do Anjo. Assim também acontece com a visita de Deus em nossas vidas. As visitas de Deus são frequentes. Mas por falta de ruminação da Palavra escrita de Deus na Bíblia, não percebemos a visita de Deus em nossas vidas. A visita de Deus é tão presente e tão contínua que, muitas vezes, já nem a percebemos e, por isso, perdemos uma grande oportunidade de viver na paz e na alegria.
*  Lucas 1,26-27: A Palavra faz a sua entrada na vida.
Lucas apresenta as pessoas e os lugares: uma virgem chamada Maria, prometida em casamento a um homem, chamado José, da casa de Davi. Nazaré, uma cidadezinha na Galiléia. Galiléia era periferia. O centro era Judéia e Jerusalém. O anjo Gabriel é o enviado de Deus para esta moça virgem que morava na periferia. O nome Gabriel significa Deus é forte. O nome Maria significa amada de Javé ou Javé é o meu Senhor. A história da visita de Deus a Maria começa com a expressão “No sexto mês”. Trata-se do "sexto mês" da gravidez de Isabel, parenta de Maria, uma senhora já de idade, precisando de ajuda. A necessidade concreta de Isabel é o pano de fundo de todo este episódio. Encontra-se no começo (Lc 1,26) e no fim (Lc 1,36.39).
*  Lucas 1,28-29: A reação de Maria.
Foi no Templo que o anjo apareceu a Zacarias. A Maria ele aparece na casa dela. A Palavra de Deus atinge Maria no ambiente da vida de cada dia. O anjo diz: “Alegra-te! Cheia de graça! O Senhor está contigo!” Palavras semelhantes já tinham sido ditas a Moisés (Ex 3,12), a Jeremias (Jr 1,8), a Gedeão (Jz 6,12), a Rute (Rt 2,4) e a muitos outros. Elas abrem o horizonte para a missão que estas pessoas do Antigo Testamento deviam realizar a serviço do povo de Deus. Intrigada com a saudação, Maria procura saber o significado. Ela é realista, usa a cabeça. Quer entender. Não aceita qualquer aparição ou inspiração.
*  Lucas 1,30-33: A explicação do anjo.
“Não tenha medo, Maria!” Esta é sempre a primeira saudação de Deus ao ser humano: não ter medo! Em seguida, o anjo recorda as grandes promessas do passado que vão ser realizadas através do filho que vai nascer de Maria. Este filho deve receber o nome de Jesus. Ele será chamado Filho do Altíssimo e nele se realizará, finalmente, o Reino de Deus prometido a Davi, que todos estavam esperando ansiosamente. Esta é a explicação que o anjo dá a Maria para ela não ficar assustada.
*  Lucas 1,34: Nova pergunta de Maria
Maria tem consciência da missão importante que está recebendo, mas ela permanece realista. Não se deixa embalar pela grandeza da oferta e olha a sua condição: “Como é que vai ser isto, se eu não conheço homem algum?” Ela analisa a oferta a partir dos critérios que nós, seres humanos, temos à nossa disposição. Pois, humanamente falando, não era possível que aquela oferta da Palavra de Deus se realizasse naquele momento.
*  Lucas 1,35-37: Nova explicação do anjo
"O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com sua sombra. Por isso, o Santo que vai nascer de você será chamado Filho de Deus”. O Espírito Santo, presente na Palavra de Deus desde o dia da Criação (Gênesis 1,2), consegue realizar coisas que parecem impossíveis. Por isso, o Santo que vai nascer de Maria será chamado Filho de Deus. Quando hoje a Palavra de Deus é acolhida pelos pobres sem estudo, algo novo acontece pela força do Espírito Santo! Algo tão novo e tão surpreendente como um filho nascer de uma virgem ou como um filho nascer de Isabel, uma senhora já de idade, da qual todo mundo dizia que ela não podia ter nenêm! E o anjo acrescenta: “E olhe, Maria! Isabel, tua prima, já está no sexto mês!”
*  Lucas 1,38:  A entrega de Maria.
A resposta do anjo clareou tudo para Maria. Ela se entrega ao que Deus estava pedindo: “Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim segundo a tua Palavra”. Maria usa para si o título de Serva, empregada do Senhor. O título vem de Isaías, que apresenta a missão do povo não como um privilégio, mas sim como um serviço aos outros povos (Is 42,1-9; 49,3-6). Mais tarde, Jesus, o filho que estava sendo gerado naquele momento, definirá sua missão:  “Não vim para ser servido, mas para servir!” (Mt 20,28). Aprendeu da Mãe!
*  Lucas 1,39:  A forma que Maria encontra para servir
A Palavra de Deus chegou e fez com que Maria saísse de si para servir aos outros.  Ela deixa o lugar onde estava e vai para a Judéia, a mais de quatro dias de viagem, para ajudar sua prima Isabel. Maria começa a servir e cumprir sua missão a favor do povo de Deus.

4) Para um confronto pessoal
1. Como você percebe a visita de Deus em sua vida? Você já foi visitada ou visitado? Você já foi uma visita de Deus na vida dos outros, sobretudo dos pobres? Como este texto nos ajuda a descobrir as visitas de Deus em nossa vida?
3. A Palavra de Deus se encarnou em Maria. Como a Palavra de Deus está tomando carne na minha vida pessoal e na vida da comunidade?

5) Oração final

Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque ele operou maravilhas.
Sua mão e seu santo braço lhe deram a vitória. (Sl 97)



11 de julho - São Bento


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

11 de julho - São Bento


São Bento (480 - 547)


1) Oração
Ó Deus, que fizestes o abade São Bento preclaro mestre na escola do vosso serviço, concedei que, nada preferindo ao vosso amor, corramos de coração dilatado no caminho dos vossos mandamentos. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho     (Mt 19, 27-29)

Naquele tempo: 27Em seguida, Pedro tomou a palavra e disse-lhe: “Olha! Nós deixamos tudo e te seguimos. Que haveremos de receber?” 28Jesus respondeu: “Em verdade vos digo, quando o mundo for renovado e o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, também vós, que me seguistes, havereis de sentar-vos em doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel. 29E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna. Palavra da Salvação.

3) Reflexão  Mateus 19,27-29
*  Hoje é a festa de São Bento, padroeiro da Europa. Por isso, na Europa, o evangelho de hoje é diferente. Os outros continentes continuam com a meditação do Sermão da Missão (Mt 10,16-23), iniciada no dia 9 de julho. Na Europa, o evangelho de hoje traz o convite de Jesus para abandonar tudo por causa dele (Mt 19,27-29). Para entender todo o alcance deste convite é bom ter presente o seu contexto. Jesus tinha dito ao jovem rico: "Se você quer ser perfeito, vá, venda tudo o que tem, dê o dinheiro aos pobres, e você terá um tesouro no céu. Depois venha, e siga-me. O jovem, quando ouviu isso, foi embora cheio de tristeza, porque era muito rico” (Mt 19,22). Diante da reação negativa do jovem, Jesus fez aquele comentário de que “é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino do céu” (Mt 19,24). Esta palavra de Jesus provocou o espanto dos discípulos: "Então, quem pode ser salvo?" Jesus respondeu: "Para os homens isso é impossível, mas para Deus tudo é possível". Em seguida vem a pergunta de Pedro que introduz o evangelho de hoje:
*  Mateus 19,27: A pergunta de Pedro 
“Olhe, Jesus, nós deixamos tudo e te seguimos. O que é que vamos ter?” Apesar de terem abandonado tudo para poder seguir a Jesus, eles ainda não tinham abandonado a mentalidade anterior. Ainda não entenderam o sentido do serviço e da gratuidade. Abandonaram tudo, sim, mas era para ter algo em troca: “O que vamos ter?”. A resposta de Jesus é simbólica. Ela aborda dois assuntos: (1) a reconstrução do novo Israel (Mt 19,28) e (2) a recompensa para quem abandona tudo por amor a ele (Mt 19,29).
*  Mateus 19,28: A reconstrução do novo Israel 
"Eu garanto a vocês: no mundo renovado, quando o Filho do Homem se sentar no trono de sua glória, vocês, que me seguiram, também se sentarão em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel”. Existe recompensa, sim, mas não por mérito. A recompensa será o fruto natural do compromisso gratuito, livremente assumido, de seguir Jesus nesta vida. Pois quem segue Jesus nesta vida, estará com ele na outra vida. A recompensa será: sentar no trono da glória junto com Jesus. No mundo renovado, anunciado por Isaías (Is 65,17-25; 66,22-23), no qual Jesus aparecerá como o Filho do Homem, o juiz universal, anunciado por Daniel (Dn 7,13-14), os apóstolos estarão com Jesus, não como poder, mas como serviço. No evangelho de João, Jesus formula a mesma coisa de outra maneira: “Quero que eles estejam comigo onde eu estiver”.
*  Mateus 19,29: A recompensa para quem abandona tudo por amor a Jesus
“E todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos, campos, por causa do meu nome, receberá muitas vezes mais, e terá como herança a vida eterna”. Trata-se de dupla promessa: cem vezes mais nesta vida e, no futuro, a vida eterna. Hoje, em muitas das comunidades eclesiais de base, o povo reconhece a verdade desta promessa de Jesus para esta vida. Pois, a vida em comunidade faz crescer o número de irmãos e irmãs, de pais e mães. A partilha faz crescer a ajuda mútua a ponto de não haver mais necessitados entre eles. Realizam o ideal de vida dos primeiros cristãos (cf At 2,44-45;4,34-35).
*  A opção pelos pobres. No tempo de Jesus, havia vários movimentos que, como Jesus, procuravam uma nova maneira de conviver em comunidade: essênios, fariseus e, mais tarde, os zelotes. Dentro da comunidade de Jesus, porém, havia algo novo que a diferenciava dos outros movimentos. Era a atitude frente aos pobres e excluídos. As comunidades dos fariseus e essênios viviam separadas. A palavra “fariseu” quer dizer “separado”. Viviam separadas do povo impuro. Alguns fariseus consideravam o povo como ignorante e maldito (Jo 7,49), cheio de pecado (Jo 9,34). Jesus e a sua comunidade, ao contrário, viviam misturados com as pessoas excluídas: pobres, publicanos, pecadores, prostitutas, leprosos (Mc 2,16; 1,41; Lc 7,37). Jesus reconhece a riqueza e o valor que os pobres possuem (Mt 11,25-26; Lc 21,1-4). Proclama-os felizes, porque o Reino é deles, dos pobres (Lc 6,20; Mt 5,3). Define sua própria missão como “anunciar a Boa Nova aos pobres” (Lc 4, 18). Ele mesmo vive como pobre. Não possui nada para si, nem mesmo uma pedra para reclinar a cabeça (Lc 9,58). E a quem quer segui-lo para conviver com ele, manda escolher: ou Deus, ou o dinheiro! (Mt 6,24). Manda fazer opção pelos pobres! (Mt 19,21-22) A pobreza, que caracterizava a vida de Jesus e dos discípulos, caracteriza também a missão. Ao contrário dos outros missionários (Mt 23,15), os discípulos e as discípulas de Jesus não podem levar nada, nem ouro, nem prata, nem duas túnicas, nem sacola, nem sandálias (Mt 10,9-10). Devem confiar é na hospitalidade (Lc 9,4; 10,5-6). E caso forem acolhidos pelo povo, devem trabalhar como todo mundo e viver do que receberem em troca (Lc 10,7-8). Além disso, devem tratar dos doentes e necessitados (Lc 10,9; Mt 10,8). Então podem dizer ao povo: “O Reino chegou!” (Lc 10,9). Este testemunho diferente a favor dos pobres era o passo que faltava no movimento popular da época. Cada vez que, na Bíblia, surge um movimento para renovar a Aliança, eles recomeçam restabelecendo o direito dos pobres, dos excluídos. Sem isto, a Aliança não se refaz! Assim faziam os profetas, assim faz Jesus. Ele denuncia o sistema antigo que, em Nome de Deus, excluía os pobres. Jesus anuncia um novo começo que, em Nome de Deus, acolhe os excluídos. Este é o sentido e o motivo da inserção e da missão da comunidade de Jesus no meio dos pobres. A opção pelos pobres atinge a raiz e inaugura a Nova Aliança.

4) Para um confronto pessoal
1. Uma pessoa que vive preocupada com a sua riqueza ou que vive querendo adquirir aqueles produtos da propaganda na televisão, pode ela libertar-se de tudo para seguir Jesus e viver em paz numa comunidade cristã? É possível? O que você acha?
2. Como entender e praticar hoje os conselhos de Jesus ao jovem rico?

5) Oração final
Feliz quem teme o Senhor
e muito se alegra nos seus mandamentos.
Poderosa sobre a terra será sua descendência,
a posteridade dos justos será abençoada. (Sl 111, 1-2)




11 de Junho - São Barnabé


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

11 de Junho - São Barnabé


São Barnabé


1) Oração

Ó Deus, que designastes são Barnabé, cheio de fé e do Espírito Santo, para converter as nações, fazei que a vossa Igreja anuncie por palavras e atos o Evangelho de Cristo que ele proclamou intrepidamente. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Mateus 10, 7-13)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 10,7"Em vosso caminho, anunciai: `O Reino dos Céus está próximo'. 8Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! 9Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; 10nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito ao seu sustento. 11Em qualquer cidade ou povoado onde entrardes, informai-vos para saber quem ali seja digno. Hospedai-vos com ele até a vossa partida. 12Ao entrardes numa casa, saudai-a. 13Se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; se ela não for digna, volte para vós a vossa paz. Palavra da Salvação.

3) Reflexão - Mt 10, 7-13
*  Hoje é festa de S. Barnabé. O evangelho fala das instruções de Jesus aos discípulos sobre como anunciar a Boa Nova do Reino às “ovelhas perdidas de Israel” (Mt 10,6). Eles devem: 1. curar os enfermos, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos, expulsar os demônios (v.8); 2. anunciar de graça aquilo que de graça receberam (v.8); 3. não levar ouro, nem sandálias, nem bastão, nem sacola, nem sapatos, nem duas túnicas (v.9); 4. procurar uma casa onde possam ficar hospedados até terminar a missão (v.11); 5. ser portadores de paz (v.13).
*  No tempo de Jesus havia vários movimentos que, como Jesus, buscavam uma nova maneira de viver e conviver, por exemplo, João Batista, os fariseus, essênios e outros. Muitos deles também formavam comunidades de discípulos (Jo 1,35; Lc 11,1; At 19,3) e tinham seus missionários (Mt 23,15). Mas havia uma grande diferença! Os fariseus, por exemplo, quando iam em missão, iam prevenidos. Achavam que não podiam confiar na comida do povo que nem sempre era ritualmente “pura”. Por isso, levavam sacola e dinheiro para poder cuidar da sua própria comida. Assim, as observâncias da Lei da pureza, em vez de ajudar a superar as divisões, enfraqueciam ainda mais a vivência dos valores comunitários. A proposta de Jesus é diferente. O método dele transparece nos conselhos que ele dá aos apóstolos quando os envia em missão. Por meio das instruções, ele procura renovar e reorganizar as comunidades da Galiléia para que sejam novamente uma expressão da Aliança, uma amostra do Reino de Deus. Vejamos:
*  Mateus 10,7: O anúncio da proximidade do Reino.
Jesus envia os discípulos para anunciar a Boa Nova. Eles devem dizer: “O Reino dos céus está próximo!” Em que consiste esta proximidade? Não significa a proximidade no tempo no sentido de que basta aguardar mais um pouco de tempo e em breve o Reino vai aparecer. “O Reino está próximo” significa que ele já está ao alcance do povo, já “está no meio de vocês” (Lc 17,21). É preciso adquirir um novo olhar para poder perceber a sua presença ou proximidade. A vinda do Reino não é fruto da nossa observância, como queriam os fariseus, mas ele se faz presente, gratuitamente, nas ações que Jesus recomenda aos apóstolos: curar os enfermos, ressuscitar os mortos, purificar os leprosos, expulsar os demônios.
*  Mateus 10,8: Curar, ressuscitar, purificar, expulsar
Doentes, mortos, leprosos, possessos eram os excluídos da convivência, e eles eram excluídos em nome de Deus. Não podiam participar da vida comunitária. Jesus manda que estas pessoas excluídas sejam acolhidas, incluídas. É nestes gestos de acolhida e de inclusão dos excluídos que o Reino de Deus se faz presente. Pois nestes gestos de gratuidade humana transparece o amor gratuito de Deus que reconstrói a convivência humano e refaz os relacionamentos inter-pessoais.
*  Mateus 10,9-10: Não levar nada
Ao contrário dos outros missionários, os apóstolos não podem levar nada: “Não levem nos cintos moedas de ouro, de prata ou de cobre; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas, nem calçados, nem bastão, porque o operário tem direito ao seu alimento”. A única coisa que podem e devem levar é a Paz (Mt 10,13). Isto significa que devem confiar na hospitalidade e na partilha do povo. Pois o discípulo que vai sem nada levando apenas a paz, mostra que confia no povo. Acredita que vai ser recebido, e o povo se sente provocado, valorizado, respeitado e confirmado. O operário tem direito ao seu alimento. Por meio desta prática o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da partilha e da convivência comunitária.
*  Mateus 10,11-13: Conviver e integrar-se na comunidade
Chegando num lugar os discípulos devem escolher uma casa de paz e lá devem permanecer até o fim. Não devem passar de casa em casa, mas conviver de maneira estável. Devem fazer-se membros da comunidade e trabalhar pela paz, isto é, pela reconstrução dos relacionamentos humanos que favorece a Paz. Por meio desta prática, eles resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acumulação que marcava a política do Império Romano e anunciam um novo modelo de convivência.
*  Resumindo: as ações recomendadas por Jesus para o anúncio do Reino são estas: acolher os excluídos, confiar na hospitalidade, provocar a partilha, conviver de modo estável e de maneira pacífica. Se isto acontecer, então podem e devem gritar aos quatro ventos: O Reino chegou!  Anunciar o Reino não é em primeiro lugar ensinar verdades e doutrinas, catecismo ou direito canônico, mas é levar as pessoas a uma nova maneira de viver e de conviver, a um novo jeito de agir e de pensar a partir da Boa Notícia, trazida por Jesus, de que Deus é Pai/Mãe e de que, portanto, todos somos irmãos e irmãs.

4) Para um confronto pessoal
1) Por que todas estas atitudes recomendadas por Jesus são sinal da chegada do Reino de Deus?
2) Como realizar hoje aquilo que Jesus pede: “não levar bolsa”, “não passar de casa em casa”?

5) Oração final

Cantai ao Senhor um cântico novo,
porque ele operou maravilhas.
Sua mão e seu santo braço lhe deram a vitória.. (Sl 97, 1)



4 de Outubro - São Francisco de Assis


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

4 de Outubro - São Francisco de Assis


1) Oração

Ó Deus, que fizestes São Francisco de Assis assemelhar-se ao Cristo
por uma vida de humildade e pobreza,
concedei que, trilhando o mesmo caminho,
sigamos fielmente o vosso Filho,
unindo-nos fielmente na perfeita alegria.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  - Mateus 11,25-30

Naquele tempo, 11,25Jesus pôs-se a dizer:  'Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra,  porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos  e as revelaste aos pequeninos.  26Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado.  27Tudo me foi entregue por meu Pai,  e ninguém conhece o Filho, senão o Pai,  e ninguém conhece o Pai, senão o Filho  e aquele a quem o Filho o quiser revelar.  28Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso. 29Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis descanso. 30Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve. Palavra da Salvação.

3) Reflexão   Mateus 11,25-30
*  Hoje, festa de São Francisco, o evangelho mostra a ternura com que Jesus acolhia os pequenos. Ele queria que os pobres encontrassem descanso e paz. Por causa disso, Jesus foi muito criticado e perseguido. Sofreu muito! O mesmo acontece hoje. Os pobres não recebem da parte dos cristãos a mesma ternura que, naquele tempo, recebiam de Jesus. Por exemplo, todo o continente africano, o mais pobre de todos, é abandonado pelos países ricos da Europa e da América do Norte que se dizem cristãos.
O contexto em que aparece este texto no capítulo 11 do evangelho de Mateus é esclarecedor. Nele transparece a contradição que a ação de Jesus ia provocando. João Batista, que olhava Jesus com os olhos do passado, não conseguiu entendê-lo (Mt 11,1-15). O povo, que olhava para Jesus com finalidade interesseira, não foi capaz de entendê-lo (Mt 11,16-19). As grandes cidades ao redor do lago, que ouviram a pregação de Jesus e viram seus milagres, não quiseram abrir-se para a sua mensagem (Mt 11,20-24). Os sábios e doutores, que julgavam tudo a partir da sua própria ciência, não foram capazes de entender a pregação de Jesus (Mt 11,25). Nem os parentes o entendem (Mt 12,46-50). Só os pequenos o entendem e aceitam a Boa Nova do Reino (Mt 11,25-30).
*  Mateus 11,25-26: Só os pequenos o entendem e aceitam a Boa Nova do Reino
Jesus faz uma prece: "Eu te louvo, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequenos. Sim, Pai, assim foi do teu agrado!” Os sábios, os doutores daquela época, tinham criado uma série de leis que eles impunham ao povo em nome de Deus. Eles achavam que Deus exigia do povo estas observâncias. Eles mesmos não as observavam (Mt 23,4). A lei do amor, trazida por Jesus, dizia o contrário. O que importa, não é o que nós fazemos para Deus, mas sim o que Deus, no seu grande amor, faz por nós! Eles observam a lei não para merecer a salvação, mas para agradecer o amor que recebem de Deus. O povo entendia a fala de Jesus e ficava alegre. Os sábios achavam que Jesus estava errado. Eles não podiam entender tal ensinamento.
*  Mateus 11,27: A origem da nova Lei: O Filho conhece o Pai.
Jesus, o Filho, conhece o Pai. Ele sabe o que o Pai queria quando, séculos atrás, entregou a Lei a Moisés. Aquilo que o Pai nos tem a dizer, Ele o entregou a Jesus, e Jesus o revela aos pequenos, porque estes se abrem para a sua mensagem. Hoje também, Jesus está ensinando muita coisa aos pobres e pequenos. Os sábios e inteligentes fazem bem em fazer-se alunos dos pequenos! Não é Deus que despreza ou exclui os sábios, mas são eles mesmos que se fecham diante da mensagem de Jesus.
*  Mateus 11,28-30: .
Jesus convida a todos  que estão cansados para vir até ele e promete descanso. É o povo que vive cansado debaixo do peso dos impostos e das observâncias exigidas pelas leis de pureza. E ele diz: “Aprendam de mim que sou manso e humilde de coração”. Muitas vezes, esta frase foi manipulada para pedir ao povo submissão, mansidão e passividade. O que Jesus quer dizer é o contrário. Ele pede que o povo deixe de lado os professores de religião da época e comece a aprender dele, de Jesus, que é "manso e humilde de coração". Jesus não faz como os escribas que se exaltam de sua ciência, mas é como o povo que vive humilhado e explorado. Jesus, o novo mestre, sabe por experiência o que se passa no coração do povo e o que o povo sofre.
O jeito de Jesus realizar o Sermão da Missão
Uma paixão se revela no jeito de Jesus anunciar a Boa Nova do Reino. Paixão pelo Pai e pelo povo pobre e abandonado. Onde encontra gente para escutá-lo, Jesus transmite a Boa Nova. Em qualquer lugar. Nas sinagogas durante a celebração da Palavra (Mt 4,23). Nas casas de amigos (Mt 13,36). Andando pelo caminho com os discípulos (Mt 12,1-8). Ao longo do mar, à beira da praia, sentado num barco (Mt 13,1-3). Na montanha, de onde proclama as bem-aventurança (Mt 5,1). Nas praças das aldeias e cidades, onde o povo carrega seus doentes (Mt 14,34-36). Mesmo no Templo  de Jerusalém, durante as romarias (Mt 26,55)! Em Jesus, tudo é revelação daquilo que o anima por dentro! Ele não só anuncia a Boa Nova do Reino. Ele mesmo é uma amostra viva do Reino. Nele aparece aquilo que acontece quando um ser humano deixa Deus reinar e tomar conta de sua vida.


4) Para um confronto pessoal
1. Para você, a comunidade é fonte de paz ou de tensão? O que causa a tensão e o que traz a paz? Qual o fardo que hoje cansa o povo e qual o fardo que hoje alivia o povo?
2. Na primeira parte (vv.25-27), Jesus fala ao Pai. Quais os motivos que levam Jesus a dar louvor ao Pai? Como e quando você louva o Pai?

5) Oração final

Bendigo o Senhor que me aconselhou;
mesmo de noite meu coração me instrui.
Sempre coloco à minha frente o Senhor,
ele está à minha direita, não vacilo. (Sl 15, 7-8)



29 de Setembro - Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael


REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA

(LECTIO DIVINA)

Frei Carlos Mesters, O.Carm.

29 de Setembro - Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael


Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael


1) Oração

Ó Deus, que organizais de modo admirável
o serviço dos Anjos e dos homens,
fazei que sejamos protegidos na terra
por aqueles que vos servem no céu.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.

2) Leitura do Evangelho  (Jo 1,47-51)

Naquele tempo, 1,47Jesus viu Natanael que vinha para ele e comentou: "Aí vem um israelita de verdade, um homem sem falsidade". 48Natanael perguntou: "De onde me conheces?" Jesus respondeu: "Antes que Filipe te chamasse, enquanto estavas debaixo da figueira, eu te vi". 49Natanael respondeu: "Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel". 50Jesus disse:  "Tu crês porque te disse: Eu te vi debaixo da figueira? Coisas maiores que esta verás!" 51E Jesus continuou: "Em verdade, em verdade, eu vos digo: Vereis o céu aberto  e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". Palavra da Salvação.

3) Reflexão   João 1, 47-51
*  O evangelho de hoje na festa dos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael traz o diálogo entre Jesus e Natanael, no qual aparece a frase: "Eu lhes garanto: vocês verão o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem". Esta frase ajuda a esclarecer algo a respeito dos arcanjos, cuja festa hoje celebramos.
*  João 1,47-49: A conversa entre Jesus e Natanael
Foi Filipe que levou Natanael até Jesus (Jo 1,45-46). Natanael tinha exclamado: "De Nazaré pode vir coisa boa?" Natanael era de Caná, que ficava perto de Nazaré. Ao ver Natanael, Jesus diz: "Eis um israelita autêntico, sem falsidade!"  E afirma que já o conhecia quando estava debaixo da figueira. Como é que Natanael podia ser um "israelita autêntico" se ele não aceitava Jesus como messias? Natanael "estava debaixo da figueira". A figueira era o símbolo de Israel (cf. Mq 4,4; Zc 3,10; 1Rs 5,5). "Estar debaixo da figueira" era o mesmo que ser fiel ao projeto do Deus de Israel. Israelita autêntico é aquele que sabe desfazer-se das suas próprias idéias quando percebe que estas estão em desacordo com o projeto de Deus. O israelita que não está disposto a fazer esta conversão não é autêntico nem honesto. Natanael é autêntico. Ele esperava o messias de acordo com o ensinamento oficial da época, conforme o qual o Messias viria de Belém na Judéia. O Messias não podia vir de Nazaré na Galiléia (Jo 7,41-42.52). Por isso, Natanael resistia em aceitar Jesus como messias. Mas o encontro com Jesus ajudou-o a perceber que o projeto de Deus nem sempre é do jeito que a pessoa imagina ou deseja. Natanael reconhece o seu engano, muda de idéia, aceita Jesus como messias e confessa: "Mestre, tu és o filho de Deus, tu és o rei de Israel!"
*  A diversidade do chamado.
Os evangelhos de Marcos, Mateus e Lucas apresentam o chamado dos primeiros discípulos de maneira muito mais resumida: Jesus passa na praia, chama Pedro e André. Logo depois, chama Tiago e João (Mc 1,16-20). O evangelho de João tem um outro jeito de descrever o início da primeira comunidade que se formou ao redor de Jesus. Ele traz histórias bem mais concretas. O que chama a atenção é a variedade dos chamados e dos encontros das pessoas entre si e com Jesus. Deste modo, João ensina como se deve fazer para iniciar uma comunidade. É através de contatos e convites pessoais, até hoje! A uns, Jesus chamou diretamente (Jo 1,43). A outros, indiretamente (Jo 1,41-42). Num dia, chamou dois discípulos de João Batista (Jo 1,39). No dia seguinte, chamou Filipe que, por sua vez, chamou Natanael (Jo 1,45). Nenhum chamado se repete, porque cada pessoa é diferente. A gente nunca esquece os chamados e encontros importantes que marcam a vida da gente. Lembra até a hora e o dia (Jo 1,39).
*  João 1,50-51: Os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem
A confissão de Natanael é apenas o começo. Quem for fiel, verá o céu aberto e os anjos subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Experimentará que Jesus é a nova ligação entre Deus e nós, seres humanos. É a realização do sonho de Jacó (Gn 28,10-22).
*  Os anjos subindo e descendo a escada
Hoje é a festa dos três arcanjos: Gabriel, Rafael e Miguel. Gabriel explicava ao profeta Daniel o significado das visões (Dn 8,16; 9,21). Foi o mesmo anjo Gabriel que levou a mensagem de Deus a Zacarias (Lc 1,19) e a Maria, a mãe de Jesus (Lc 1,26). Seu nome significa “Deus é forte”. Rafael aparece no livro de Tobias. Ele acompanhou a Tobias, filho de Tobit e Ana, na viagem e o protegeu de todos os perigos. Ajudou Tobias a livrar Sara de um mau espírito e a curar Tobit, o pai, da cegueira. Seu nome significa “Deus cura”. Miguel ajudou o profeta Daniel nas suas lutas e dificuldades (Dn 10,13.21; 12,1). A carta de Judas diz que Miguel disputou com o diabo o corpo de Moisés (Jd 1,9). Foi Miguel que venceu o satanás, derrubando-o do céu e jogando-o no inferno (Ap 12,7). Seu nome significa “Quem é como Deus!” A palavra anjo significa mensageiro. Ele traz uma mensagem de Deus. Na Bíblia, a natureza inteira pode ser mensageira de Deus, revelando o amor de Deus por nós (Sl 104,4). O anjo pode ser o próprio Deus, enquanto volta a sua face para nós e nos revela a sua presença amorosa.

4) Para um confronto pessoal
1. Você já teve um encontro marcante na sua vida? Como foi que descobriu a chamada de Deus aí dentro?
2. Você já se interessou alguma vez, como Filipe, em chamar uma outra pessoa para participar da comunidade?

5) Oração final

Eu vos louvarei de todo o coração, Senhor,
porque ouvistes as minhas palavras.
Na presença dos anjos eu vos cantarei.
Ante vosso santo templo prostrar-me-ei,
e louvarei o vosso nome, pela vossa bondade e fidelidade. (Sl 137, 1-2)